Moda continua em expansão e agrada ao paladar brasileiro com opções de
sabores adaptadas ao país. Modelo de franquias é adotado por empreendedores que
buscam ganhar capilaridade.
Com a proposta de extrapolar as sazonalidades, os empresários já
investem em ações que resgatam o interesse constante dos clientes pelo produto.
Sabores tropicais e combinações inusitadas estão entre as novas apostas. “O
cardápio de verão é apresentado aos clientes em novembro. Já estamos testando
combinações para o ano que vem. Temos um acordo com o Casagrande Hotel, do
Senac, e usamos a cozinha deles para testes. São 12 experimentações por mês e,
se alguma der certo, passa a ser vendida. Esse constante hábito de levar coisas
novas faz o consumidor sempre buscar sua marca, porque o instiga”, afirma
Audrey Borgatta, Proprietária e idealizadora do Los Ticos Paleteros, em
entrevista ao Mundo do Marketing.
Desafio da sazonalidade
Com atividades iniciadas em
março deste ano, a Los Ticos Paleteros conta com duas unidades abertas, em
Moema e no Shopping Morumbi, e duas próximas à inauguração, na Vila Madalena e
na Granja Vianna – todas em São Paulo. De olho na ida dos paulistas para o
litoral em época de festas e férias, a empresa irá abrir uma pop up store em
Ilha Bela. Com o início da operação do ponto, a expectativa é dobrar a venda
mensal, que é de 45 mil paletas.
Assim que abriram as portas da primeira loja, no início do outono, eles
experimentaram investir em sabores que esquentassem, como os que contam com
bebidas alcoólicas como ingredientes. “Inauguramos um quiosque temporário em
Campos do Jordão no inverno e apresentamos sabores como arroz-doce e
choconhaque, que mesmo com temperaturas negativas tiveram muita saída. Nossas
apostas apresentaram boa receptividade do público. Hoje, existe um ponto de
venda que tem um freezer nosso na cidade”, conta Audrey.
Adaptar-se ao clima também foi a estratégia da Los Paleteros para
movimentar as vendas. A cada quatro meses são incluídas novas opções. “No
último inverno, desenvolvemos linhas que remetiam a sobremesas de tempos frios,
como trufa de chocolate e torta de limão. Eles sairão de linha nas próximas
semanas para dar lugar aos lançamentos de verão. Os clientes fazem sugestões
pelas redes sociais e, sempre que conseguimos, colocamos as ideias deles no
portfólio”, conta Gean Chu, Diretor Executivo da Los Paleteros, em entrevista
ao Mundo do Marketing.
Negócio em ascensão
Uma das pioneiras entre as
paleterias, a catarinense Los Paleteros iniciou suas atividades em dezembro de
2012, após um investimento de R$ 1,1 milhão, oriundos de um investidor-anjo.
Hoje, a rede conta com 46 pontos distribuídos pelos estados de Santa Catarina,
Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito
Santo, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. Boa parte dessas lojas são
franquias, modelo de negócio que os sócios aderiram desde que visualizaram a
oportunidade do empreendimento. “Gastamos R$ 1 milhão para a construção de uma
fábrica e uma loja piloto. Pensando na expansão do negócio, investimos, este
ano, R$ 14 milhões na segunda fábrica e em uma loja conceito na cidade de
Barracão, no Sudoeste do Paraná”, conta Chu.
O investimento é fundamental para que a empresa se aproxime das regiões
nas quais pretende implantar novas filiais. A meta da empresa é encerrar 2014
com 72 lojas e, 2015, com 130, incluindo uma expansão internacional. Tanto
incentivo é equivalente à demanda. São vendidas cerca de 710 paletas por dia,
divididas em categorias como frutadas, cremosas, premium e fechadas, com opções
sem glúten ou lactose. A ideia é alcançar o maior número de pessoas e isso
envolve também os preços.
Cada paleta é vendida por R$ 6,00 a R$ 8,00, valor que pode ser
considerado alto comparado a um picolé tradicional. “Não é um preço proibitivo,
mas é um produto diferenciado. Nosso foco é na Classe B, mas, pela qualidade,
alcançamos também a classe A, que é composta por formadores de opinião. A
Classe C se permite gastar um pouco mais do que está habituada para ter algo de
qualidade. Com isso acabamos sendo democráticos”, diz Diretor Executivo da Los
Paleteros.
A busca por sorvetes mais sofisticados é observada pelo setor como
reflexo do interesse do consumidor por alimentos gourmet. Essa tendência leva o
setor a apostar em sabores e formatos únicos. “Os empresários que investem em
coberturas, recheios e mesmo embalagens diferenciadas tendem a cair no gosto do
brasileiro, porque eles são atraídos por novidades. O comum, logo cai no
esquecimento”, conta Eduardo Weisberg, Presidente da Associação Brasileira das
Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS), em entrevista ao Mundo do Marketing.
Segmentação como ponto chave
Mesmo fazendo
parte de um nicho do mercado de sorvetes, as paletas também criam vertentes
dentro da própria categoria. A Los Ticos Paleteros, por exemplo, categorizou
sua linha de produtos como premium, com preços mais elevados e estrutura de
loja diferenciada. A decisão foi tomada após um estudo das concorrentes mostrar
que todas tinham uma comunicação visual para um público generalizado. Além
disso, elas adotavam um processo industrial de fabricação, distante do conceito
artesanal, o que poderia limitar os sabores e a inovação. As marcas ainda
incidiam na falta de alguns sabores nas lojas. A Los Ticos Paleteros garantiu,
então, o ar de exclusividade com a fabricação interna de mais de 30 sabores,
produzidos na hora, fazendo com que nunca falte o que o cliente quer.
Os preços das variedades oscilam entre R$ 7,00 e R$ 11,00, com opções
que incluem bebidas como vinho do porto, tequila e cachaça. O objetivo é conquistar
paladares exigentes e manter o ar da original paleta mexicana. “Temos um plano
bem conservador. Não queremos um milhão de lojas, mas proporcionar uma
experiência especial em cada ponto de venda, algo que agregue valor.
Começaremos a franquiar em janeiro e, provavelmente, teremos outros pontos, mas
eles serão abertos com o mesmo padrão”, afirma Audrey.
Posicionar-se de maneira diferenciada não traz, para a proprietária,
receio de afastar os consumidores, mesmo em um período de recessão econômica.
“O fracasso de um negócio não se resume apenas à onda passar. Depende
principalmente da gestão. O mercado de sorvetes está crescendo muito e há
oportunidade para quem investir nele. Sorvete é sorvete, entra e sai a variação
da economia e continua vendendo”, conta Audrey.
Erros, lições e o desafio da permanência
Ao estarem entre
os pioneiros a apostarem nesse negócio, os empresários servem de exemplo para
futuros empreendedores. A falta de um respaldo ou experiência anterior os leva
a aprenderem com os próprios erros. Quando abriu a Los Ticos Paleteros, a
proprietária se viu em meio a situações inusitadas, nas quais seus
conhecimentos em Marketing não a ajudaram. “Apesar de minha vivência na área de
comunicação e estratégia, eu não tinha noção da parte prática. Passei a
trabalhar com câmara fria e, uma vez, ela abriu durante a noite e os produtos
estragaram. Tive que lidar com frutas, estoque de alimentos e idas ao Ceasa.
Precisei trazer um profissional do México para nos ajudar e, depois que pegamos
o jeito, passamos a criar por nossa conta. Usamos o modelo mexicano e
tropicalizamos o negócio”, conta Audrey.
Entre enxergar a oportunidade do mercado de paletas e partir para a
implementação da ideia, houve necessidade também de serem feitas adaptações na
Los Paleteros. Logo que visitou as indústrias do sorvete no México, os
fundadores notaram algumas particularidades diferentes das existentes no
Brasil, como o maquinário, que não estava adaptado para trabalhar com frutas e
caldas espessas. A decisão de customizar a produção favoreceu a inovação dentro
da empresa.
As experiências mostram que não basta apenas montar um negócio sem
entender o que há por trás da vontade do consumidor. “Identificamos que, de
todos os players, nenhum estava com foco no natural e no saudável. Hoje as
pessoas estão menos propensas a comprarem potes de dois litros porque não
querem engordar. Elas buscam porções únicas e isso facilita a compra por
impulso. Entender nosso consumidor é entender para onde queremos ir”, afirma
Gean Chu.
Utilizar como exemplo redes de franquias que sofreram com a perda de
clientes, após o passar do modismo, é uma das formas de não sucumbir ao longo
do tempo. “Em outros momentos, tivemos a onda dos iogurtes, e as paletas têm
que manter a constância em novidades e sabores para sobreviverem por muito
tempo. É um trabalho de provar a todo tempo que sabem se reinventar”, conta
Eduardo Weisberg.
Por Priscilla Oliveira, do
Mundo do Marketing
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