segunda-feira, 26 de abril de 2010

Fábula da Coletividade

Uma senhora vivia numa pequena chácara e tinha alguns animais: vacas, porcos, galinhas etc. Para alimentá-los guardava milho na tulha.

Lá havia muitos ratos. Esses ratos viviam sossegados até o dia em que a mulher resolveu colocar uma ratoeira na tulha. Um dos ratos, na hora que viu a armadilha preparada para ele, saiu desesperado.
Logo à frente encontrou com uma vaca e disse:

- Vaca, nós estamos com um problema sério; armaram uma ratoeira lá na tulha. A vaca, por incrível que possa parecer, deu risada.
- Como nós? Você já viu ratoeira pegar vaca? Eu não tenho nada com isso. Me poupe. Isso é problema seu.
E saiu ruminando. O rato desesperado saiu a procura do porco:

Porco, nós estamos com uma encrenca danada, a mulher colocou uma ratoeira na tulha.
- O que é isso? Eu estou bem longe da tulha, isso nunca vai me pegar, não. E tem mais, ratoeira não pega porco, olha o meu tamanho. O problema é muito seu,se vira.
O rato, atônito, correu para conversar com a galinha:

- Galinha, nós estamos com um problema muito sério.
- Pelo amor de Deus, eu já não aguento mais problemas e vem você querendo me torturar. O máximo que posso fazer é rezar por você.
- Mas tem uma ratoeira armada lá na tulha, bradou o rato num desespero de dar gosto!
- Mas isso não é comigo, é contigo.
O rato foi embora desapontado, pois não conseguiu sensibilizar ninguém.
À noite todos dormiram e, de repente, splaft. A ratoeira desarmou. O barulho chamou a atenção de todos lá na chácara. Todos correram para ver o que aconteceu, inclusive o rato. Era uma cobra cascavel que havia sido pega na ratoeira.
A mulher levantou-se e foi tirar a cascavel da ratoeira e num descuido, tomou uma picada. Foi imediatamente levada ao hospital,por seus parentes, em estado grave. Ficou internada por vinte dias e, na volta, com a saúde muito debilitada, precisava de muitos cuidados e uma laimentação especial.
Qual a melhor dieta para recuperação da mulher?
Canja. Lá se foi a galinha.
Depois de um mês, com a saúde restabelecida, resolveu oferecer um almoço para todos seus parentes que a tinham ajudado, e lá se foi o porco (à pururuca).
A questão é que o tratamento no hospital tinha ficado muito caro (novidade né), vinte dias de internação, e aí não teve alternativa, teve que vender a vaca para um açougueiro.

Cuidado: A ratoeira que aparece ali num canto pode não te pegar num primeiro momento, mas os efeitos dela são fortíssimos. A nossa arrogância é tamanha que nos consideramos proprietários do planeta, assim como alguns se consideram proprietários daquele cargo, daquela área. Não somos proprietários, somos usuários compartilhantes.
Esse planeta é o lugar onde nós nos abrigamos, onde nós nos protegemos assim como bilhões e bilhões de formas de vida também o fazem. Aliás, a ciência calcula que, afora a espécie humana, em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies diferentes com bilhões de seres vivos. Aliás, para cada ser humano no planeta há sete bilhões de insetos. Já imaginou se, para entender o que estamos fazendo com o planeta partilhado, hoje à noite só os seus vierem lhe visitar?

Aprendizado:
Nada nos dá legitimidade para supor que sejamos os proprietários da vida que nesse planeta está.

Extraida do livro: Qual é a sua obra? do filósofo Mário Sergio Cortella

Um comentário:

BUSCA PERSONALIZADA

Busca personalizada