sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Uma história real


O personagem conhecido de nossa história foi filho de uma mãe solteira, de uma gravidez indesejada, resultado de um relacionamento de ocasião na faculdade e de um comportamento irresponsável na hora da relação sexual. Sim, irresponsabilidade. Estamos falando de uma pessoa esclarecida, bem educada e com o discernimento de todos os métodos para se proteger de doenças sexualmente transmissíveis e de uma possível gravidez, mas que acabou cedendo a um efêmero momento de prazer passageiro sem pensar nas consequências.
Diante do resultado positivo no teste de gravidez, ela estava decidida a não querer o filho, para que não atrapalhasse seus planos de ter uma carreira. Apesar da existência de uma lei que permite o aborto nos EUA, ela não quis carregar a culpa por ter matado aquela criança. Decidiu assumir a responsabilidade por seu erro e passou pela gravidez até o nascimento do bebê a fim de colocá-lo disponível para adoção quando nascesse.
Mesmo rejeitando a criança, ela colocou alguns requisitos para a adoção, considerando ser a sua colaboração para o bem do futuro de seu "filho", ainda que não viesse a conhecê-lo. Ela valorizava tanto sua universidade a ponto de não querer a criança. No entanto, criou exigências para os pais que o adotassem. Ela não abria mão de que a adoção fosse feita por um casal com curso superior e que assumisse o compromisso moral de que pagariam a tão importante universidade para o menino adotado.
Estava tudo certo para um casal de advogados adotar o menino, mas, ao nascer, o casal desistiu porque chegou à conclusão de que, na realidade, queria uma menina e mais uma vez ele foi rejeitado. Com isso, o próximo casal da fila foi contatado e informado de que apareceu um menino recém nascido. Ao serem perguntados se o queriam, os futuros pais responderam imediatamente: "Sim, claro!"
Num dado momento do processo de adoção, a mãe biológica descobriu que a mãe tinha apenas o ensino médio completo e o pai não tinha sequer terminado o ensino fundamental e, por isso, se recusou a assinar os papéis para que a criança fosse adotada por esse casal. Meses adiante, ela concordou em assinar, porque o casal insistiu muito e prometeu que pagaria uma faculdade para o menino no futuro.
17 anos mais tarde, o menino inteligente e sonhador foi para a faculdade. Lá, nos primeiros meses, viu que os seus pais, assalariados, pagavam quase tudo o que ganhavam e economizaram durante toda a vida naquele curso para cumprir a promessa que fizeram e acreditando que seria o melhor caminho para o jovem. O menino não viu valor naquilo, decidiu abandonar a faculdade e, a partir desse momento, deixou de fazer as aulas obrigatórias da graduação e fez um rápido curso de caligrafia, pelo que ficou fascinado pela beleza plástica da escrita feita à mão.
Para encurtar a história, 10 anos mais tarde, esse menino aplicou seus conhecimentos de caligrafia na construção de seu projeto: a criação do Macintosh, o primeiro computador pessoal da Apple, que apresentou uma interface gráfica bonita, mais tarde copiada pela Microsoft. Sim, eu acabei de contar a história de Steve Jobs.
Jobs contou essa história em plena cerimônia de formatura dos alunos de Stanford em 2005, sem que muitos percebessem o que ele de fato pensava sobre o valor que ele percebia sobre uma universidade.
Sua mãe o rejeitou pela universidade, os que seriam seus novos pais, graduados numa universidade, o rejeitaram por preferirem uma menina. Por fim, sua mãe biológica não autorizou sua adoção para o casal simples porque eles não tinham uma universidade. Mas, por fim, quem lhe deu amor e carinho, acolhendo-o em sua família, foi um casal de gente simples que juntou dinheiro por toda vida para lhe pagar uma universidade por conta de uma promessa.
Jobs é um dos grandes personagens da história moderna. Um dos homens que mais influenciaram as novas gerações nas últimas duas décadas e um dos responsáveis pelo mundo parecido com o que conhecemos hoje. Neste momento, estou escrevendo de um Mac e me dando conta de que a beleza de seu design vem do referencial estético de um curso que muitos desprezavam: caligrafia.
Podem dizer o que for sobre a mãe biológica de Jobs, podem falar que ela foi egoísta por priorizar a tal universidade em detrimento de seu próprio filho. Mas uma coisa não podemos negar. Seja lá quem for essa mãe, quais foram seus erros cometidos, já que todos nós estamos sujeitos a falhas, eu fico muito feliz por ela ter dado a Jobs a oportunidade de nascer e não o matou num aborto. Essa decisão também nos deu a chance de termos conhecido um dos empreendedores mais admirados de todos os tempos.

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