sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Zilda Arns: morre nossa melhor candidata ao Prêmio Nobel da Paz.


No início da década de 1980, a pediatra Zilda Arns deu início ao Programa Pastoral da Criança que propunha acabar com a morte precoce de bebês pobres no Brasil. Graças a essa iniciativa, o índice de mortalidade é zero em mais de 2.000 municípios brasileiros onde antes a miséria e os maus hábitos de higiene ceifavam a vida de centenas de milhares de crianças. Embrenhados nos rincões ou nas periferias pobres das capitais, 145.000 voluntários da cruzada da doutora Zilda Arns, 90% dos quais favelados, conseguiram que o índice trágico, em suas áreas de atuação, ficasse abaixo de doze crianças a cada 1.000 nascidas vivas. Na Alemanha, o índice é de cinco por 1.000. Nos Estados Unidos, sete, e em Cuba, nove. Enquanto isso, o índice oficial brasileiro alcança 35. Por ano, o trabalho da pastoral impede que 5 000 crianças morram.

Trabalha-se com muito pouco, quase nada, na campanha contra a morte infantil. Não se constroem sedes nem ambulatórios. Algumas poucas pessoas recebem ajuda de custo quando se dedicam totalmente à pastoral. Até bem pouco tempo a doutora Zilda coordenava tudo de sua própria casa, em Curitiba. Só assim consegue o milagre de gastar apenas 1 real por mês para cada uma do 1,6 milhão de crianças assistidas.
Os meios para combater a mortalidade são rudimentares. Mas são eficazes exatamente porque as causas da mortalidade são simples. Todo mês os bebês são pesados numa balança igual à dos pescadores. "Projetamos uma balança que até pendurada num galho de árvore é confiável", conta a médica. No dia do "ver-o-peso", o trabalho das voluntárias mostra múltiplas atividades. Umas pesam os bebês, outras verificam a situação de nutrição da criança por meio de uma fita-medida passada no antebraço, outras espalham conselhos e vacinas. Tudo é motivo para agregar mães e repassar os ensinamentos básicos da luta contra a mortalidade.

A nutrição é garantida pela "multimistura", alimento já chamado de "milagroso" no interior, desenvolvido pela médica Clara Takaki há vinte anos, em Santarém. Sua observação sobre o teor nutritivo de certas raízes, frutos e vegetais levou-a a combiná-los sob a forma de farinha e administrá-la em crianças subnutridas. Deu certo. Elas começaram a ganhar peso e seu estado nutricional estabilizou-se. Simples, muito barato, mas nunca havia sido tentado antes.
A grandeza do trabalho da Pastoral da Criança contra a mortalidade infantil é inversamente proporcional ao seu custo: muito barato e, ao mesmo tempo, muito eficiente. É unânime entre os pensadores de questões sociais no Brasil que a doutora Zilda Arns tinha desenvolvido uma potente tecnologia social, fazendo tanto com tão pouco.
Por ter salvado em tão pouco tempo tantas vidas, que a médica pediatra Dra. Zilda Arns tem seu lugar assegurado na História recente do Brasil e entendo que ela continua sendo nossa melhor candidata ao prêmio Nobel da Paz.

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