quarta-feira, 16 de julho de 2014

Barão de Itararé


  “Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.”

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly
Uma das frases antológicas de Barão de Itararé, criador do jornal “A Manha”, o Barão ridicularizava ricos, classe média e pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos de jornal e intelectuais.  
Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de nobre e nobre se tornou.
O primeiro nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que, “quando pobre come frango, um dos dois
está doente”.
Ele é um dos inventores do contra-politicamente correto. 
Há muito que o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971) merecia uma biografia mais detida.
Em 2003, o filósofo Leandro Konder lançou  “Barão de Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas).
O texto de Konder é muito bom, mas, como é uma biografia reduzida, não dá conta inteiramente do personagem, uma espécie de Karl Kraus menos filosófico, mas igualmente cáustico. 
Quatro anos depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o
Opúsculo “Barão de Itararé— Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas).
É ótimo, como o livrinho de Konder, mas lacunar.
No final,  há uma coletânea das melhores máximas do humorista, que dizia:

O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.

O uísque é uma cachaça metida a besta.

A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.

Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.

O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.

Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

Neurastenia é doença de gente rica.  Pobre neurastênico é malcriado.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Quem empresta, adeus.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro. 

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

O fígado faz muito mal à bebida.

O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso. 

A alma humana, é como os bolsos da batina de padre, tem mistérios
insondáveis.

Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.

Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria,  procure em outra!

Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!

Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…

Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.

As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato. 

Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.  

Quem não muda de caminho é trem.

A moral dos políticos é como elevador:  sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

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