“Não é
triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.”
Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly |
Uma das frases
antológicas de Barão de Itararé, criador do
jornal “A Manha”, o Barão ridicularizava ricos, classe
média e pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos de jornal e intelectuais.
Ele não era
barão, é claro. Mas deu-se o
título de nobre e nobre se tornou.
O primeiro nobre
do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que, “quando
pobre come frango, um dos dois
está doente”.
Ele é um dos inventores
do contra-politicamente correto.
Há muito que o
gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé
(1895-1971) merecia uma biografia mais detida.
Em 2003, o
filósofo Leandro Konder lançou “Barão de
Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas).
O texto de
Konder é muito bom, mas, como é uma biografia reduzida, não dá conta
inteiramente do personagem, uma espécie de Karl Kraus menos filosófico, mas
igualmente cáustico.
Quatro anos
depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o
Opúsculo “Barão
de Itararé— Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas).
É ótimo, como o
livrinho de Konder, mas lacunar.
No final, há uma coletânea das melhores máximas do
humorista, que dizia:
O que se leva
desta vida é a vida que a gente leva.
O uísque é uma
cachaça metida a besta.
A criança diz o
que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Os homens nascem
iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
Dizes-me com
quem andas e eu te direi se vou contigo.
A forca é o mais
desagradável dos instrumentos de corda.
Sábio é o homem
que chega a ter consciência da sua ignorância.
Mantenha a
cabeça fria, se quiser ideias frescas.
O tambor faz
muito barulho, mas é vazio por dentro.
Genro é um homem
casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Neurastenia é
doença de gente rica. Pobre neurastênico
é malcriado.
De onde menos se
espera, daí é que não sai nada.
Quem empresta,
adeus.
Pobre, quando
mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
O banco é uma
instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas
suficientes de que não precisa de dinheiro.
Tudo seria fácil
se não fossem as dificuldades.
A televisão é a
maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é
redondo, mas está ficando muito chato.
Precisa-se de
uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
O fígado faz
muito mal à bebida.
O casamento é
uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
A alma humana,
é como os bolsos da batina de padre, tem mistérios
insondáveis.
Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não
é bonito, nem rima, mas é profundo…
Tudo é relativo:
o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
Nunca desista do
seu sonho. Se acabou numa padaria,
procure em outra!
Devo tanto que,
se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
Viva cada dia
como se fosse o último. Um dia você acerta…
Tempo é
dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
As duas cobras
que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é,
se cura, cobra, e se mata, cobra.
O voto deve ser
rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar
no seu candidato.
Em todas as
famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
Negociata é um
bom negócio para o qual não fomos convidados.
Quem não muda de
caminho é trem.
A moral dos
políticos é como elevador: sobe e desce.
Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona
definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
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