Não é tarefa fácil mudar valores e pressupostos pessoais, enraizados em
anos de formação e experiência pessoal aprendida nas escolas, na família e na
empresa. Isso gera um determinado padrão dominante de comportamentos e atitudes.
Originado do Sistema Toyota e adotado
hoje por empresas de todos os setores, tamanhos e em todo mundo, o Sistema Lean
- filosofia de gestão radicalmente contrária ao sistema tradicional das
companhias - tem uma ferramenta ideal para se provocar isso, sem precisar ir,
por exemplo, ao Tibete.
Trata-se do "Método A3", um
excelente "exercício de humildade" por parte do administrador - no
melhor estilo oriental -, além de ser um método comprovadamente eficiente de
administração.
O "Método A3" é a prática de planejar e resolver
qualquer coisa dentro de uma empresa - de um pequeno problema administrativo
até a construção de uma nova fábrica - usando apenas e tão somente uma única
folha de papel, do tamanho A3 - daí o nome. Nesse método, tudo deve
"caber" ali, nessa única folha, da forma mais simples e objetiva
possível.
Trata-se de um método filosófico poderoso. Partindo de uma folha de
papel em branco, o administrador reconhece a sua ignorância ao buscar um
processo de entendimento rigoroso e científico da situação atual de um tema ou
de um problema.
E mais: o A3 exige que se vista a "sandália
franciscana" da humildade, saia do conforto do escritório ou das salas de
reunião e vá ao "gemba" (palavra japonesa que na filosofia lean
significa "chão de fábrica"), local onde as coisas acontecem - para
falar com as pessoas engajadas nos processos concretos e observar com seus
próprios olhos. Com isso, deve-se evitar o "já sei, o "já
conheço" e, o pior de todos: o "aqui está a solução". Todos
devem ser substituídos por perguntas investigativas como: "o quê?" e
"por quê?", até que os fatos concretos, os dados e as informações
relevantes, bem como suas causas, emirjam com clareza.
Além disso, o
"Método A3" também exige o "controle do ego" do
administrador, para que as outras pessoas envolvidas nos processos sejam
consultadas, pois podem vir delas as melhores idéias. Assim, é um método que
colocada à prova o verdadeiro trabalho em grupo, no qual o saber ouvir e, mais
do que isso, o saber escutar precisa ocorrer em sua essência e plenitude na
resolução de problemas práticos e relevantes - num diálogo franco e aberto com
todos os envolvidos, em particular com o seu mentor, a pessoa mais interessada
e comprometida em sua resolução e finalização.
O "Método A3" provoca
no líder a condição de ser respeitado mais pelo seu conhecimento e capacidade
do que por posições formais na hierarquia. Ele passa a ser a
"autoridade" no assunto - e não o "autoritário".
O A3 é
resultado de um bom processo de diálogos e de compromissos assumidos. Isso
pode, muitas vezes, requerer muita paciência. Fomos criados para avançarmos
cada vez mais rápido, e as novas tecnologias cada vez mais nos pressionam para
isso. Nesse caos, às vezes, ir devagar pode ser muito melhor. E aquele líder
"sabe tudo", que tem a solução que todos esperam, deve ser
substituído pelo líder que sabe fazer as perguntas certas, que faz as pessoas
pensarem.
Não é tarefa fácil mudar valores e pressupostos pessoais, enraizados
em anos de formação e experiência pessoal aprendida nas escolas, na família e
na empresa. Isso gera um determinado padrão dominante de comportamentos e
atitudes.
Mas sair um pouco da rotina, às vezes angustiante do dia-a-dia pode
ser um exercício útil para permitir uma auto-reflexão sobre os limites da visão
do "comando e controle" e dos benefícios de entender e posicionar o
papel da liderança como um dos elos na cadeia de ajuda a quem efetivamente
agrega valor.
Que tal parar de esperar e começar hoje mesmo? E não precisa da
ajuda de ninguém, quer seja um monge ou algum outro agente externo. A razão
deve prevalecer sobre as emoções na administração Lean. Mas um novo tipo de
razão, na qual o papel do líder seja, em essência, desenvolver pessoas capazes
de agregar valor ao cliente.
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