No próximo dia 05 de outubro, completa-se um ano que o mundo ficou menos criativo, pois perdemos um ser humano iluminado, aquele que através de suas criações tornou
nosso cotidiano mais agradável, eficiente e acima de tudo, mais bonito.
É essa impressão que fica, de que gente fora
de série, nunca morre.
É o que justifica frases que, vez ou outra ouvimos:
“Elvis não morreu” ou “Lennon vive”.
Alguém já definiu a nova condição do fundador da
Apple: “Steve Paul Jobs não morreu, apenas foi habitar o ciberespaço”.
De certa forma, acredito que o mais notável empreendedor
das últimas décadas pode ensinar muito aos jovens que chegam ao mercado de
trabalho, sejam eles empreendedores, sejam colaboradores de empresas já
consolidadas.
Jobs teria uma boa desculpa para passar a vida
reclamando. Filho de uma norte-americana e de um imigrante muçulmano sírio, foi
logo entregue para adoção.
Anos depois, podia ter largado tudo quando se viu sem
dinheiro para pagar o curso universitário.
Mesmo sem a matrícula convencional, continuou assistindo
às aulas. Dormia no chão da casa de amigos. Comia com os trocados que ganhava
coletando e vendendo garrafas de Coca-Cola. Uma vez por semana, descolava uma
refeição decente no templo Hare Krishna local.
A partir daí, a história de Jobs é bem conhecida, mas
convém destacar que bem podia ter aceito o fracasso que o destino lhe propunha,
em vez de rebelar-se e dirigir seu pensamento para a revolução tecnológica.
Essa decisão corajosa, por si só, constitui-se numa
tremenda lição para os novos profissionais. Pode parecer frase de livro de
auto-ajuda, mas vale repeti-la aqui: “nunca desista de seus sonhos”.
Cabe lembrar também que Jobs não era um “nerd”
convencional. Não consumiu a juventude trancado em seu quarto, mexendo em
circuitos eletrônicos.
Ainda jovem, viajou para a Índia em busca de
iluminação espiritual. Conheceu pessoas diferentes e um estilo de vida muito
distinto do norte-americano.
Virou budista, rapou a cabeça, usou bata e teve
experiências psicodélicas. Segundo ele, essa aventura no mundo da contracultura
foi fundamental para que quebrasse paradigmas e constituísse novas interfaces
para as máquinas inteligentes.
Portanto, aquele que quiser inovar, de verdade,
precisa conhecer o mundo em metamorfose e aprender a lidar com a diversidade
humana.
Jobs era um orador formidável, capaz de resumir em
poucas palavras pensamentos muito complexos.
Muitos desses conceitos foram expressos justamente em
mensagens que tinham como alvo os jovens profissionais.
Em 1985, numa entrevista para a Playboy, ele mostrou
que todo grande empreendedor precisa enxergar à frente de seu tempo,
identificando as aspirações e demandas da sociedade. Por meio desse exercício
dialético, antecipou a utilidade de seus produtos nas décadas seguintes.
- A principal razão para a maioria das pessoas
comprarem um computador para suas casas será para se conectar a uma rede
nacional de comunicações. Estamos apenas nos primeiros estágios do que será uma
grande revolução para a maioria das pessoas – tão revolucionária quanto o
telefone.
Em 1996, no documentário Triumph of the Nerds,
explicou parte de seu sucesso ao comparar seu modus faciendi com aquele
da empresa de Bill Gates.
- O único problema da Microsoft é que eles não têm
estilo. Eles não têm estilo nenhum. E não falo isso nas pequenas coisas. Falo
em tudo, no sentido de que eles não pensam em ideias originais e de que eles
não levam cultura para seus produtos.
Jobs pretendia dizer que o empreendedorismo
revolucionário devia ser holístico. Necessitava de ousadia, inovação,
criatividade e de uma visão integral das transformações sociais e econômicas.
Naquele mesmo ano, falando para a revista Wired,
anteviu o processo de miniaturização das estações de trabalho, que seriam
valorizadas também pela mobilidade.
- Entrará para a história como uma grande mudança na
indústria musical. Eu não posso subestimar isso.
- A indústria do computador desktop está morta. A
inovação virtualmente acabou. A Microsoft domina cada uma destas inovações.
Isso acabou. A Apple perdeu. O mercado do PC desktop entrou em uma fase negra e
ficará nela pelos próximos 10 anos ou até o final desta década.
Como estrategista de negócios, portanto, Jobs
não apenas contemplava o devir. Cada um de seus projetos tinha por meta
remodelar o futuro.
Foi o que fez, por exemplo, no campo da arte e do
entretenimento. Vale lembrar o que declarou para a Fortune, em 2003,
referindo-se à loja virtual iTunes.
Cabe lembrar também o que disse, de modo bem franco,
para os formandos de Stanford, em 2005.
- Às vezes a vida te bate com um tijolo na cabeça. Não
perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me fez continuar foi que
eu amava o que fazia. Você precisa encontrar o que você ama. E isso vale para o
seu trabalho e para seus amores. Seu trabalho irá tomar uma grande parte da sua
vida e o único meio de ficar satisfeito é fazer o que você acredita ser um
grande trabalho. E o único meio de se fazer um grande trabalho é amando o que
você faz. Caso você ainda não tenha encontrado (o que gosta de fazer), continue
procurando. Não pare.
Para terminar este tributo, lembro o que Jobs revelou
ao The Wall Street Journal, em 1993, numa bela entrevista.
- Ser o homem mais rico do cemitério não me interessa.
Ir para a cama à noite dizendo que fizemos algo maravilhoso, isso, sim, me
importa.
Se Jobs foi dormir de vez, é certo que fechou os olhos
satisfeito, “tranquilo”, como relatou a família. Viveu 56 anos sem abdicar da
juventude. Esticou seu tempo breve empreendendo, todos os dias. Deixou para
trás um mundo mais inteligente e mais conectado.
É seu legado: o que deixa para mim e para você.
Texto originalmante escrito por Carlos Júlio.
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