Diante de tantas explicações sobre o assunto, fica cada vez mais difícil
saber o que realmente significa o termo 'Empreendedorismo'
Eu vejo constantemente publicações, artigos, livros,
textos e uma ampla miríade de conhecimento desenvolvido sobre o tema
empreendedorismo, nas mais diversas áreas e mídias, algumas fidedignas, outras,
nem tanto. A segmentação do assunto parece não ter fim: empreendedorismo
corporativo, empreendedorismo social, empreendedorismo em empresas familiares,
empreendedorismo étnico, empreendedorismo de start-up, e assim por diante.
Diante de tantas explicações sobre o assunto, fica
cada vez mais difícil saber o que realmente significa o termo
'Empreendedorismo'. Eu mesmo me vejo, em algumas situações, com dúvidas cruéis
sobre a legitimidade da presença de alguns termos nas definições que vejo, e o
pior é que não consigo perceber nenhuma tendência de se chegar a um consenso em
torno de uma definição única.
Assim, prefiro seguir o caminho contrário e procurar
aqui definir o que eu não considero empreendedorismo. Desta forma, posso dar
espaço para que cada um construa sua própria definição, numa atitude mais
democrática e mais condizente com o que o ensino do empreendedorismo deve ser:
a construção do conhecimento ponderado pela união entre próprias convicções e
informações externas, dando o máximo de liberdade de interpretação e
contribuindo para ampliar ainda mais as distintas visões sobre o tema.
Empresários
Esta é a
primeira e mais comum confusão que se criou nesta profusão de nomenclaturas.
Muitas definições colocam empresários e empreendedores como sinônimos, quando,
na verdade, o empreendedor é mais do que um empresário. Qualquer cidadão que
abre um negócio é, a rigor, um empresário.
Um empreendedor, por outro lado,
vai além, constrói uma organização de sucesso com base em ousadia,
determinação, criatividade, relacionamentos, realizações, autoconfiança,
flexibilidade e visão. O empresário que não possui pelo menos metade destas
características não pode ser considerado um empreendedor.
Quem abre mais uma
padaria ou posto de gasolina, sem ter vislumbrado uma oportunidade, sem ter
construído uma sólida e factível visão do futuro ou se preparado para toda e
qualquer vicissitude que encontrar no caminho, pode ser um empresário, mas
dificilmente o consideraria um empreendedor.
Franquia
do
Ainda que
seja possível ver um empreendedor conduzindo uma franquia, acredito que a
franquia representa um tipo de modelo de negócio que afasta, ou deveria
afastar, o verdadeiro empreendedor pelo simples motivo que uma franquia limita
uma das coisas que o empreendedor mais preza: a liberdade.
Com maior ou menor
grau, todas as franquias oferecem como benefício aquilo que o empreendedor
enxerga como restrição: Identidade visual, padronização de metodologia e
processos, cadastro único de fornecedores, políticas de preços uniformes,
infraestrutura centralizada, marca e imagem, além de outros elementos que, no
conjunto, trazem a segurança de um modelo de negócios já testado e,
provavelmente, com riscos bastante reduzidos.
Um empreendedor pode até
colocar a experiência de franqueado como uma etapa de seu processo de aprendizado,
mas dificilmente vê uma franquia como seu objetivo final.
Herança
Empresas
familiares podem ser de dois tipos: Aquelas originadas pelo empreendedor como
fundador e aquelas que foram entregues já constituídas para as gerações
seguintes. Posso afirmar com certa segurança que verdadeiros empreendedores se
preocupam mais com a sustentabilidade do seu negócio no longo prazo do que a
lucratividade por si só. Este fato já pode aumentar as chances de vermos
sucessores empreendedores à frente de negócios de sucesso criados por uma ou
mais gerações anteriores.
Empreendedores formam (ou melhor, 'forjam')
empreendedores para dar continuidade aos seus negócios, mesmo que estes não
sejam seus sucessores diretos, ou sequer familiares. Entretanto, ainda é grande
o número de herdeiros que se dizem empreendedores sem saber que não detém as
qualificações que colocaram o fundador à frente do processo de criação e
desenvolvimento da organização que assumiu.
Líderes
Também existe
uma grande confusão em torno das definições de empreendedores como líderes.
Líderes são diferentes de empreendedores. Alguns tipos de empreendedores podem
ser influentes, cativantes, capazes de mobilizar pessoas em torno de causas
comuns, viabilizar grandes realizações através de equipes, compreender e
explorar o que existe de melhor de cada pessoa. Mas isso, por si só, não faz de
um líder um empreendedor. Um líder não necessariamente é dotado de alta
flexibilidade e adaptabilidade, embora saiba praticar o modelo de gestão
participativo.
Um líder não é necessariamente perseverante e determinado,
embora saiba construir e transmitir visões positivas do futuro que influenciam
seguidores mais do que a si mesmo. Um líder também não costuma colocar 'a mão
na massa', ao conduzir projetos. Embora costume atuar mais como um facilitador
para deixar as pessoas mais livres, prefere ser o maestro e reger os esforços
da equipe, do que sujar as próprias mãos.
Inovadores
O economista
Joseph Schumpeter foi um dos mais proeminentes estudiosos do empreendedorismo.
Sua linha de estudos vincula a figura do empreendedor à do inovador. A maior
parte dos estudos acadêmicos no Brasil também segue por esta linha. Antes de
prosseguir na argumentação, é importante diferenciar uma ideia de uma inovação.
Uma ideia é qualquer manifestação do pensamento criativo, enquanto uma
inovação é o resultado do processo evolutivo de uma idéia em termos de valor
agregado. Uma inovação é, portanto, uma ideia que serve para alguém ou alguma
coisa. Isso posto, fica estabelecido o ponto de intersecção entre o inovador e
o empreendedor.
Toda iniciativa do empreendedor está cercada por algum grau
de inovação. Não precisa ser um novo produto ou serviço, pode ser uma simples
mudança ou melhoria num processo. Se ninguém havia pensado naquilo, então é uma
inovação. O empreendedor é aquele que coloca a inovação em prática, realiza-a e
gera resultados perceptíveis. Pessoas que são boas em gerar inovação, como
cientistas e pesquisadores, não necessariamente são empreendedores. O
empreendedor transforma a inovação em negócio.
E então, você já tem elementos suficientes para
escrever sua própria definição de empreendedor ou empreendedorismo?
Escrito por Marcos Hashimoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário