"A ética é daquelas coisas
que todo mundo sabe o que é, mas que não é fácil de explicar, quando alguém
pergunta", segundo o professor e doutor em filosofia pela Universidade de
Heidelberg, na Alemanha, Álvaro L.M. Valls.
A origem da palavra ética vem do
grego "ethos", que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os
romanos traduziram o "ethos" grego para o latim "mos" (ou
no plural "mores"), que quer dizer costume, de onde vem a palavra
moral. A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por
esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social.
Todo homem possui um senso ético,
uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando
e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas
ou injustas.
Há séculos existe uma grande
confusão entre ética e moral, pois a própria etimologia destes termos ajudou a
gerar esta confusão.
Define-se Moral como um conjunto
de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o
comportamento do indivíduo no seu grupo social. Moral e ética não devem ser
confundidos, pois enquanto a moral é normativa, a ética é teórica, e buscando
explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como
fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.A moral é mais focada em um grupo
de pessoas, por exemplo, se eu disser, é certo comer um cachorro? Você
provavelmente vai dizer que não, mas na Coréia do Sul é normal.
Existem pessoas que gostam de
frequentar praias nudistas, tem grupo de pessoas que acham certo executar os
estupradores, isso é uma questão moral, o pensamento de certo grupo de pessoas.
Agora, a ética é muito mais
complicada do que parece. A ética é um estudo filosófico e que engloba uma
"regra" para toda a sociedade mundial.
È importante salientar que a Moral
sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a
distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o
homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades
primitivas, nas primeiras tribos.
A Ética teria surgido com
Sócrates, pois exige um maior grau de cultura. Ela investiga e explica as
normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou
hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Adolfo Sánchez Vázquez
um dos mais respeitados filósofos da atualidade aponta que a Ética é teórica e
reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra,
havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e
o agir são indissociáveis.
Ética é princípio, moral são
aspectos de condutas específicas; Ética é permanente, moral é temporal; Ética é
universal, moral é cultural; Ética é regra, moral é conduta da regra; Ética é
teoria, moral é prática.
Na pratica moral e ética são
indistinguíveis, apenas as diferenciamos academicamente.
Atualmente vivemos em um mundo
onde os valores estão se perdendo, onde a honestidade virou um diferencial e
não uma obrigação.
Entramos em um momento social onde
"os fins justificam os meios" se tornou frase de cabeceira da maioria
das pessoas. Onde o "fio de bigode" somente tem valor para o
barbeiro.
Muito se fala em ética, mas pouco
se faz de ética.
Vamos refletir sobre alguns dados, produzidos por Marcos Fernandes economista, coordenador da escola de economia da FGV e Transparência Brasil e publicados na Revista Exame de 20/7/2005:
O custo anual da corrupção
nacional é de R$ 380 bilhões, esse valor equivale a R$ 722.983,25 por minuto ou
ainda R$ 12.049,72 por segundo.
O Brasil deixa de crescer em 2% do PIB por ano
devido a corrupção.
21% das empresas aceitam o pagamento de subornos para
conseguir favores.
70% das empresas gastam até 3% do faturamento anual com
propinas.
87% relatam que a cobrança de propina ocorre com alta frequência.
96%
dizem que a corrupção é um obstáculo importante para o desenvolvimento*.
De acordo com o Ibope em pesquisa
realizada no final de 2005, 90% dos brasileiros não acreditam nos políticos.
"A corrupção é provavelmente
o maior problema que o Brasil terá de encarar se quiser crescer", diz o
financista americano Mark Móbil, um dos homens mais ricos do mundo e um dos
maiores especialistas em mercados emergentes, com mais de três bilhões de
dólares aplicados no Brasil.
Sempre houve corrupção na história
das civilizações. Há milênios, quando os seres humanos começam a organizar
comunidades, surgiu a necessidade de regras de conduta. Há quase 4 mil anos, no
ano de 1.700 a.C., na velha Babilônia o Código Hammurabi previa drásticas penas
para mandatários oficiais envolvidos em situações de corrupção.A própria Bíblia
relata o caso de Judas.
Observando a história chegamos à
conclusão de que a corrupção parece fazer parte da "cultura" humana.
Um dos jornais de maior circulação
do Estado de São Paulo publicou no final do mês de julho de 2006 uma reportagem
intitulada "Devolveu o cartão, chocou a vizinhança" onde relata o
drama de uma dona de casa de da cidade de Boituva no interior de São Paulo que
recebia quinze reais do programa bolsa família e quando finalmente conseguiu um
emprego de empregada doméstica com carteira assinada, resolveu devolver o
cartão da bolsa família.
Este gesto custou-lhe reprovações
e olhares desconfiados pelas ruas da cidade. A reportagem demonstra a atual
inversão de valores em que nossa sociedade se encontra e que a falta de ética
está disseminada em todas as classes.
A imprensa divulga diariamente
escândalos e desvios financeiros praticados por pessoas do alto escalão seja
nas empresas privadas ou publicas, mas em nosso cotidiano observamos a mesma
atitude apenas muda o tamanho da suposta vantagem.
Seja o superfaturamento de uma
nota de refeição em alguns reais pelo representante comercial, a compra de
produtos falsificados, estacionar em vagas destinadas á idosos ou deficientes,
"furar" a fila, ter dois valores para o serviço dependendo exigência
ou não da nota fiscal, jogar o lixo em qualquer lugar, comprar ingresso de
cambista, espalhar boatos, não devolver o carrinho de supermercado depois de
colocar as compras no carro, dirigir embriagado dentre outras centenas de
comportamentos erráticos que são justificáveis quando são nossos e imperdoáveis
quando são dos outros.
Um exemplo cotidiano de ética e
educação podem ser visto nesta pequena historia, que poderia acontecer com
qualquer uma de nós.
"O garçom informa ao pai:
- Sua filha não precisa pagar pelo
almoço: O buffet não cobra até oito anos.
Mas o pai apressa-se a esclarecer:
- A menina já completou oito anos.
A criança parece muito mais jovem,
e o garçom diz surpreso e impressionado: - Eu não saberia que ela tinha oito
anos!
Com serenidade, o pai aponta para
a filha e enfatiza: - Sim, certamente você não saberia a diferença... Mas ela
sabe e jamais esquecerá! "".
Esta falta de valores que se
espalhou pela sociedade do século XXI, aliada ao egoísmo desta nova geração
está levando a uma degradação moral e ética crônica no convívio das pessoas.
"O mundo está sendo invadido
pela desavergonhada afirmativa que o poder é todo-poderoso e nada se consegue
pela justiça" disse Alexander Solzhenitsyn premio Nobel de Literatura em
1972.
Isso ocorre por que mesmo depois
sete milhões de anos de evolução o instinto elementar de sobrevivência continua
ainda vivo dentro de cada um de nós. Na natureza, as dificuldades para obter
alimentos, escapar dos predadores, encontrar abrigo contra intempéries, nos
condicionaram a um comportamento "animal" que não sofre com os
malefícios acarretados a outros indivíduos da mesma espécie, pois em nosso
inconsciente ainda imperam as mesmas regras básicas na natureza a "lei do
mais forte" e "salve-se-quem-puder".
Este instinto de sobrevivência no
homem de século XXI aparece velado através de pequenos atos de insubordinação
social através da ética imoral quando "os fins justificam os meios",
onde tudo se torna relativo e temporal dependendo das circunstâncias. O
"eu" sobrepõe o coletivo transpondo assim os limites da ética e moral
conforme a conveniência de cada individuo. Impera a lei do Gerson, tirar
vantagem de tudo.
É preciso muita coragem para ser
ético e fazer a coisa certa.
Ir de encontro ao comportamento da
maioria exige muita confiança e coragem, pois você será pressionado, ameaçado e
até atacado. Na pré-história, quando o "bando" corria para se salvar,
quem ficava para trás morria. Sobreviveram apenas os que correram com o
"bando". Estamos impregnados por instintos arraigados durante milhões
de anos que nos impulsionam a correr com o "bando". São apenas alguns
milênios de civilização contra milhões de anos de comportamento animal.
Por isso a cada dia que passa se
torna mais importante quebrar alguns paradigmas para realizar uma real mudança
de atitudes e comportamentos.
Diga não a qualquer falta de
ética.
Comece agora.
“A ética é a estética de dentro.” Pierri Reverdy
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