terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O que é o tempo?

O que é o tempo?

Se você tentar agarrar o tempo com as mãos, ele estará sempre deslizando por entre seus dedos – Julian Barbour, físico britânico e autor de “O fim do Tempo: A próxima revolução na Física”.


INTRODUÇÃO:
Este texto busca explorar questões reflexivas acerca do tempo. Este tema foi recorrente no pensamento de inúmeros filósofos, mas na abordagem que segue, não há aprofundamento específico de nenhum pensador, trata-se, apenas de uma tentativa de desconstruir a percepção e conhecimento comum que existe sobre o assunto. 

A DIVISÃO COTIDIANA DO TEMPO E SEUS POSSÍVEIS PROBLEMAS:
Independentemente do continente em que se esteja o homem, de alguma maneira, vive em função do tempo. As pessoas costumam guiar seus cotidianos por meio de relógio. Porém, poucas destas pessoas já dedicaram-se a refletir sobre o tempo, e certamente poucas são capazes de defini-lo. E, afinal, o que é o tempo? Santo Agostinho, certa vez escreveu: “Por conseguinte, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se euro explicá-lo a quem me pergunta, então não sei”. O que a maioria das pessoas pensa/sabe, é que o tempo é uma divisão do dia em um determinado número de horas, minutos e segundos, sendo que tais medidas encontram-se postuladas por uma sincronia com o movimento dos astros que, por sua vez, demarcam dia e noite, a duração de um dia, de uma semana, de um ano, etc. Enfim, o movimento dos astros e da Terra condiciona o calendário. Esta contagem que hoje é feita, cuja base é a duração do dia em 24 horas e da hora em 60 minutos, foi uma herança dos babilônios: “Esta divisão tendo o 12 como base teve sua origem na Babilônia (os babilônicos discutiam o ano em 360 dias e o ano em 12 meses de 30 duas; a cada 6 anos eles acrescentavam um mês para retomar o percurso do sol”. (PIETTRE, 1997 p.18). Porém, o autor esclarece um fato importante: essas marcas comuns poderia ser feita de outra maneira: “Claro que a medida do tempo que nós usamos é convencional; poderíamos dividir o dia em 10 horas ou 20 horas e operar a divisão do dia, da hora, do minuto tendo 10 como base, como fazemos, aliás, para dividir os segundos”. (PIETTRE, 1997 p.18).
“Por conseguinte, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se euro explicá-lo a quem me pergunta, então não sei.” – Santo Agostinho.
Portanto, até aqui, percebe-se que o tempo que conhecemos é simplesmente baseado numa medida comum que é criada conforme certa convenção, mas que poderia ser diferente. Agora, consideremos a divisão básica que fazemos para distinguir o tempo: passado, presente e futuro. Se o tempo que nos condiciona e que estabelecemos, é mera convenção, o que seriam essas três divisões? Primeiramente, talvez devêssemos considerar que consistam em criações meramente mentais que advém da razão. Isto é: essa divisão do tempo só existe na mente humana. Por exemplo: considere a leitura deste texto. Você está lendo no presente. Este presente foi futuro e agora já se tornou passado. Só que ele também foi futuro… É praticamente um tempo uno, que ocorre de uma só vez, sendo que você vivencia o agora, mas praticamente não o sente, já que ele logo se transforma em passado. Em 1955, Einstein declarou: “A distinção entre passado, presente e futuro é uma ilusão”. Toda a natureza pode ser modifica pela passagem do tempo, mas, um pássaro, uma flor ou um cão, não sabem distinguir ou situar passado, presente e futuro. Por conseguinte, estas três etapas são projeções mentais que parecem existir somente na consciência, pois: “o passado e o futuro, rigorosamente falando, não são; um não é mais, outro não é ainda, e o instante presente já não é mais, todos existem somente para a consciência, que se lembra, antecipa e faz durar o presente”. (PIETTRE, 1997 p. 206).
Albert Einstein, com a Teoria da Relatividade, afirmou que não existe um só tempo, existem tempos diversificados e que dependem da individualidade para serem sentidos. Além disso, o tempo , para o físico, não pode ser considerado separadamente do espaço (tempo-espaço). Einstein, com esse pensamento, desconstruiu uma concepção cotidiana e até mesmo científica de que o tempo é um só.  O tempo não ocorre da mesma forma para todos, depende da perspectiva, isto é, sua passagem  é afetada diretamente pelo movimento de um indivíduo no espaço. O tempo corre mais devagar para quem se encontra em movimento, e quanto maior for este movimento, com menor velocidade o tempo passará, ou seja, o movimento desacelera a passagem do tempo. Para tentar compreender a relatividade de Einstein, consideremos um caso prático. O russo Sergei Krikalev, ficou em órbita durante 803 dias 9 horas e 39 minutos. Levou com ele um relógio atômico que estava sincronizado com outro relógio, sendo que este segundo, estava na Terra. Quanto o astronauta retornou de sua viagem, seu aparelho estava com uma medida diferente do marcador que havia ficado em nosso planeta. A diferença era de 0,02 segundo de antecipação. Isto significa que, cientificamente, Krikalev viajou para o futuro (por 0,2 segundos). Contextualizando: o tempo para ele, enquanto estava no espaço, passou de maneira diferente daqueles que estavam na Terra.

O HOMEM E O TEMPO:
O pensador alemão Martin Heidegger também explorou a ideia de que a separação temporal é uma atividade tipicamente humana. Para ele, resumidamente, tal distinção ocorre a partir do momento em que os homens reconhecem suas finitudes, pois neste momento, surge o temor da morte, e este temos irá gerar remorsos passados e angústias futuras. Mas há um problema: será que todo ser humano faz distinção entre passado, presente e futuro? Por incrível que pareça, há um contraponto. Daniel Everett, linguista norte-americano que conviveu com uma tribo indígena brasileira chamada Pirarrã, para esta tribo, apenas o presente existe e estes índios não possuem concepção de passado ou futuro. Isto nos leva a especular que a divisão do tempo, não é, necessariamente uma atividade humana, já que existe uma notável exceção. Talvez possamos concluir, portanto, que o tempo existe somente para o espírito, mas que não é um fator a priori (ao menos não se levarmos em conta o comportamento dos Pirarrã, narrado por Everette).
Resta-nos dedicar nosso “tempo” para refletir sobre estes fatos tão instigantes e que são capazes de demolir  o conhecimento comum que formulamos sobre o assunto abordado.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
PIETTRE, Bernard. Filosofia e Ciência do Tempo. 1997. Editora: Edusc.


Um comentário:





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