Apesar do
vasto conhecimento acumulado em administração de empresas, muitos executivos
continuam preferindo as modas.
por Thomaz Wood Jr. — publicado em 14/01/2014.
A administração de empresas, como profissão, é centenária.
Seu corpo de conhecimentos avançou consideravelmente desde a década de 1950: do
marketing às finanças corporativas, da gestão de pessoas à logística, da
estratégia à gestão da informação. Para qualquer questão empresarial relevante,
é possível encontrar artigos, livros e manuais de boa qualidade, baseados em
estudos conduzidos com rigor científico. Isso não significa que haja receitas
fáceis para os problemas que afligem as empresas, mas que existe conhecimento
suficiente para enriquecer as perspectivas de análise e facilitar a escolha de
rotas e a tomada de decisão.
Entretanto, a partir do fim dos anos 70, um novo fenômeno
veio povoar o mundo da administração, onda que chegou aos trópicos nos anos 90.
A abertura de mercado, as reformas econômicas e as privatizações criaram o
ambiente para sucessivas modas gerenciais. O processo é cíclico. Ideias,
originais ou reembaladas, podem brotar de vários terrenos: da academia, das
consultorias e das empresas. A maioria fenece na primeira infância, por não ser
capaz de despertar interesse ou entusiasmo.
Porém, algumas dessas ideias sobrevivem e passam a ser
vistas como soluções. Então, um jornalista, pesquisador ou executivo atento e
perspicaz escreve um livro, que misteriosamente ganha destaque em uma revista
de negócios. Acendem-se os holofotes e chega a fama. O promotor da ideia ganha
notoriedade e é transformado em guru. As consultorias, atentas, desenvolvem
metodologias e prometem implantar a nova maravilha em sete passos certeiros. As
empresas, entusiasmadas, adotam a novidade em uníssono. A mídia reflete e
catalisa a onda, publicando histórias de sucesso, reais ou fictícias. Nas
empresas, os novidadeiros são promovidos. As escolas incorporam o novo
paradigma em seu currículo e o espalham por meio de seus cursos de educação
corporativa.
Em determinado momento, o edifício começa a mostrar
fissuras. A poção mágica, afinal, não é tão milagrosa como diziam. Alguns
executivos começam a falar em efeitos colaterais danosos. A mídia
desinteressa-se e os consultores veem sua vaca leiteira definhar. Logo surge
outra novidade, desponta um novo guru e aparece um novo pacote de consultoria.
Um novo ciclo toma o lugar, até que chegue sua vez de deixar o palco, para que
outro e outro tomem sucessivamente a ribalta.
O que fica? A mídia de negócios vende revistas e espaço
publicitário, as editoras vendem livros, os consultores empurram seus pacotes e
os gurus enriquecem. Nas empresas, os padrinhos das novas ideias são promovidos
e seus asseclas ganham força. No entanto, para as organizações, depois que
baixa a neblina, pouco resta.
E assim foi por duas décadas. Não foram poucas as
ondas e marolas. Quem não se lembra da qualidade total, da reengenharia, do
planejamento estratégico, da gestão por objetivos, da organização matricial, da
gestão do conhecimento, das melhores práticas, da cultura organizacional e das
competências centrais? A lista é longa. Todas as modas gerenciais tiveram seu
momento. Conheceram a ascensão, a maturidade e o declínio. Tiveram gurus e
livros seminais. Prometeram mundos e fundos. Garantiam respostas para os
desafios da globalização, para as ameaças dos concorrentes, para a
competitividade, para a lucratividade e para a felicidade. Quase todas
terminaram esquecidas.
O que explica a repetição desses ciclos? Primeiro, os
executivos desejarem ser vistos como homens de ação, preocupados em mostrar
que adotam as mais novas técnicas de gestão. Segundo, porque os agentes
envolvidos faturam com as ondas e, portanto, trabalham para promovê-las.
Terceiro, porque as organizações não aprendem. Elas evitam refletir sobre seus
erros e gostam de celebrar façanhas inexistentes. Quarto, em razão da
fascinação dos gerentes tropicais com artefatos ianques: se vêm do Norte, devem
ser bons. Será?
Felizmente, muitos executivos não respondem mais com
entusiasmo às panaceias gerenciais. Melhor a eles e às empresas. Infelizmente,
a postura anti-intelectual os afasta da busca de conhecimento consistente. Nos
trópicos, o que separa a boa teoria da prática é, em grande parte, a inépcia e
o amadorismo dos gestores. Talvez um dia se convençam definitivamente de que o management não
pode ser pop, que experts não devem ser celebridades e que a
gestão não pode ser prêt-à-porter.
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