Mais
do que funcionários eficientes, que realizam adequadamente suas tarefas,
cumprem regras e se esforçam para atingir suas metas, as organizações modernas
estão à procura de um novo tipo de profissional.
Diante
do imperativo da inovação, algumas empresas, na busca do melhor caminho rumo à
competitividade, depositam em seus funcionários a esperança de promover
mudanças significativas nos negócios.
Mais
do que funcionários eficientes, que realizam adequadamente suas tarefas,
cumprem regras e se esforçam para atingir suas metas, as organizações modernas
estão à procura de um novo tipo de profissional. Querem encontrar aquele que
realiza mais do que é esperado dele, que não se sujeita a seguir regras que
possam impedir suas realizações, que vai além de suas obrigações e
responsabilidades, que não só gera grandes idéias, mas traz a capacidade de
transformá-las em realidade. As organizações estão procurando
intraempreendedores.
Sob
esta perspectiva, é difícil acreditar que existam pessoas que tenham este
perfil empreendedor, mas não queiram ter um negócio próprio? Sim, elas existem,
estão contentes com o mundo corporativo e querem continuar desenvolvendo sua
carreira. Eles são raros e valiosos para as empresas, não importando em que
lugar da empresa estejam. Pode ser uma simples iniciativa de uma secretária
para resolver conflitos de agendamento da salas de reunião até um operador de
copiadora que cria uma campanha para as pessoas reciclarem suas cópias em
papel. O escopo de atuação do intraempreendedor abrange toda a empresa e não
apenas as lideranças.
Só
para ter uma ideia, veja dois exemplos bastante simples que conheci. Um lixeiro
que trabalha em uma companhia de coleta no interior de São Paulo reduziu pela
metade o tempo diário de coleta na rua. Em algumas cidades o sistema de coleta
de lixo funciona da seguinte maneira: em cada quarteirão existe uma grande
caixa de plástico, com tampa e dotado de rodinhas, na rua, encostada no
meio-fio. Para jogar o lixo, as pessoas vão até esta caixa, abrem a tampa e
depositam seus sacos de lixo lá dentro. De madrugada, os caminhões passam pelas
ruas e param ao lado de cada uma destas caixas. O lixeiro só tem o trabalho de
empurrar a caixa para conectar a um dispositivo na traseira do caminhão, quando
então um dispositivo é acionado que levanta e vira a caixa para que a tampa se
abra e todo o conteúdo seja derrubado dentro do caminhão. Depois de esvaziar a
caixa, esta volta à situação inicial, o lixeiro a destrava e a recoloca no seu
lugar na rua. Em seguida o caminhão se dirige à próxima caixa e todo o processo
se reinicia. Pois este lixeiro teve a ideia de sair do depósito com uma caixa
vazia já conectada ao dispositivo. Ao chegar no primeiro quarteirão, ele
destrava a caixa vazia, coloca-a no lugar da caixa cheia e conecta a caixa
cheia no dispositivo. Em seguida, ele aciona o dispositivo e, enquanto a caixa
é esvaziada, o motorista se dirige ao próximo quarteirão. Ao chegar à próxima
caixa, a caixa anterior já está vazia pronta para ser retirada do dispositivo.
O lixeiro então troca novamente a caixa e todo o ciclo se reinicia. Ao usar o
mesmo tempo de esvaziamento da caixa para o deslocamento do caminhão, o lixeiro
e sua equipe conseguem encerrar o trabalho todo na metade do tempo que os
outros colegas normalmente levam.
No
segundo exemplo, conheci uma copeira de uma grande multinacional que era muito
querida por todos os funcionários. Ela vivia dando dicas de receitas e de
atividades domésticas: como tirar manchas de tecidos, como tirar pelo de roupas
escuras, como passar ternos etc. Suas dicas eram tão procuradas que, a convite
do pessoal do RH que cuidava da intranet, ela criou um blog para disseminar
seus ricos conhecimentos, que ela atualiza semanalmente com ajuda da equipe
técnica. Hoje é uma das páginas mais visitadas da empresa.
Claro
que estes exemplos não são de grandes inovações que vão revolucionar o negócio
da empresa, são nada mais do que pequenas iniciativas pessoais, mas o que vale
é a cultura que permeia toda a empresa, uma cultura que mostra que qualquer um
pode fazer a diferença. Quando esta cultura está instaurada, as pessoas
trabalham de forma cooperativa, se responsabilizando umas pelas outras, os
líderes dão liberdade e autonomia para que seus subordinados inventem novas
soluções para os problemas da empresa, os controles são deixados de lado quando
ameaçam uma boa ideia, as pessoas ousam experimentar coisas novas e não são
penalizadas se cometerem erros, problemas são vistos como desafios a serem
superados e ninguém se sente constrangido ou intimidado por manifestar
livremente sua opinião.
Art Fry - inventor do post-it |
Muitas
histórias como esta existem nas empresas brasileiras. Só não são mais numerosas
porque estes funcionários conseguem vislumbrar problemas e soluções, mas não
conhecem bem as técnicas para estruturar suas ideias ou levantar os recursos
para transformar suas ideias em realidade. Quanto mais complexa for sua ideia,
maior a necessidade de recursos, maior a resistência interna em designar estes
recursos para este funcionário, maior a necessidade dele ser muito bom em
negociação, venda da ideia, liderança, conhecimento holístico, técnicas de
gestão de projetos, entre outras necessidades mais complicadas e, geralmente,
fora do alcance das pessoas normais.
A saída é desenvolver, junto com uma cultura voltada
para a inovação, uma estrutura organizacional que viabilize o contato do
intraempreendedor com áreas que vão ajudá-lo a desenvolver seus projetos e
levantar os recursos necessários. Muitas vezes, estas estruturas precisam ficar
distantes das estruturas já existentes para não se contaminarem com a visão
orientada a resultados, eficiência, controles, processos estruturados e
rigidez.
Por Marcos Hashimoto
Por Marcos Hashimoto
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