quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Resenha do livro: Zen e a arte da manutenção de motocicletas
O livro “O zen e a arte da manutenção de motocicletas”, de Robert Pirsig - é genial. Mas se prepare para virar seus pensamentos pelo avesso. No livro, um homem e seu filho de 9 anos saem em uma longa viagem de motocicleta, que se transforma na maior ‘viagem’ cerebral. É discussão filosófica da pesada, escrita com uma pegada meio ‘born to be wild’. Nesses tempos em que a tecnologia comanda, é uma leitura que vem a calhar - pois leva a ‘revisões gerais’ de vida e reposicionamentos ante uma série de coisas. Para quem gosta de metafísica, melhor ainda.
A viagem pelas estradas a perder a vista dos Estados Unidos da América tornou-se um arquétipo, pelo menos a partir de On the Road, de Jack Kerouac e do filme Easy Rider. Nesse romance, ela é empreendida por um pai e o seu filho -, motards que preferem as estradas secundárias às auto-estradas, completamente expostos ao ambiente -, e transforma-se numa odisséia pessoal e filosófica e num mergulhar até às raízes da arte de viver. Ao introduzir questões filosóficas elaboradas, de uma forma que se torna deveras acessível e apelativa para o leitor comum, Pirsig cria uma filosofia prática, assentada no bom senso e na intuição tanto como na racionalidade, baseada num novo valor a que chamou "qualidade". Ambiciona igualmente, por essa via, constituir uma ponte possível entre pensamento Ocidental e Oriental. O cuidar atento e empenhado dispensado por este aventureiro à sua motocicleta é a metáfora para uma tentativa de valorizar a tecnologia no nosso mundo, onde Buda existe tão perfeitamente nos circuitos digitais de um computador como nas pétalas de uma flor. O segredo reside na atitude. Uma obra polêmica que desde a sua primeira edição não deixou de inspirar milhões de pessoas em todo o mundo até hoje.
Mais do que escrever um simples e banal romance, o autor preocupa-se, sobretudo, em dar à sua obra um caráter existencialista.
Assim, por meio de um percurso pessoal, de âmbito filosófico e espiritual, tenta levar o leitor a meditar sobre o valor real da vida, nas suas facetas racionais, humanistas e transcendentes.
Escrito num estilo muito acessível, onde o humor se mistura com as contingências vivenciais do dia a dia, esta obra apelativa e agradável, tornou-se num clássico da literatura contemporânea, graças à contemporaneidade do seu assunto: a constatação dos antagonismos da existência.
A obra descreve a travessia da América, por estrada, numa motocicleta, em cujos principais personagens são pai e filho. Durante a travessia, as necessidades de manutenção e reparação mecânicas, da motocicleta, servem de referências metafóricas a uma bonita e desprendida aventura, que acaba na reconciliação do homem com a sua natureza e a sua condição.
Reconciliação que passa pela tentativa da construção de uma forma de ser e estar, onde se conjugam valores ocidentais e valores orientais (tal como o título assim sugere).
Este modelo de escrita quer na temática, quer no tipo de prosa, tratava-se, para a época da primeira edição, de algo diferente do habitual. Diferente não nos valores em questão, mas acima de tudo, pela fusão dos mesmos de forma tão arcaica e tão pouco teosófica. Na altura, em 1975, o pensamento ocidental estava saturado de estética "hippie", na qual figuravam, em grande, as filosofias e as formas de pensar religiosas de gênese oriental, contudo, a clivagem entre essas duas grandes culturas mantinha-se. A inovação trazida pelo autor, através dos seus textos, a princípio muito enjeitados (consta no Guinness como a obra que mais vezes foi rejeitada pelas potenciais editoras, 121 vezes no total) e depois adorados, tanto pelos leitores como pelos críticos, com cerca de 5 milhões de exemplares vendidos, consiste essa inovação, como dizíamos, numa conjugação rara que potencia a interpenetração de culturas.Tratando-se de um fato notável, na época, isso faz desta obra um livro pertinente ainda nos dias de hoje.
Apesar de marcada pela controvérsia desde o seu nascimento, os antagonismos interpretativos do momento da edição foram aos poucos e poucos, diluídos no tempo, convertendo o livro numa referência da literatura, imprescindível para figurar em qualquer biblioteca. Não sendo assim uma obra consensual, ela baseia nisso o seu êxito, tanto mais que continua a pôr em confronto o ideário ocidental e oriental. Enfim, um livro fascinante e atual, que ainda inspira milhões de pessoas.
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